terça-feira, 19 de julho de 2011

Beirada do tempo.

Senti os pés esfriarem e com a náusea esperada ,saltei no vento, no espaço rumo aos céus.
Vi todo o tipo de alegrias.Vi a minha mãe me ninando depois do jantar,meu irmão correndo assustado com medo de palhaço,meu pai me tirando os medos,meu primeiro beijo,meu último amor...
Vi tudo isso e muito mais!As flores lilases que coloquei no leito de minha avó ,o beijo cálido que dei em sua face gélida,como que o meu beijo cheio de amor e saudade acordasse do momento mórbido àquela voz que enchia minha vida de alegria , enchia a casa de felicidade e o jardim de pureza.

Tudo passou-me à frente dos olhos, como lances de mim, flashes de tudo.Tudo era uma coisa só,era parte de outras partes que coabitavam dentro de algo que esmorecia lentamente , estrebuchando os pés sem chão.Coisas tão pequenas e singelas.

Nada dava lugar à dor,pois esta já de mim se ia.Havia certo prazer em sufocar,em não respirar, em não mais ser.Havia o que eu deixava de ser...eu era alegre.Meus lábios sorriam pro tempo.Ahhh! Tempo...quando eu não vivia nas tuas beiradas!Participastes tanto dos meus anseios,te atropelei tanto.Quando menina, queria ser mocinha.Quando mocinha, já me era essa mulher.Quando mulher, já não havia mais futuro...nem jeito pro passado.Ah,Tempo!É tempo de me ir.

Tudo me foi meticulosamente calculado.Cortei as amarras,uni as pontas que me levariam,apertei os nós.Nó da minha garganta que me cortava a voz, molhava-me os olhos de emoção.Sempre fui chorona.Chorava quando via os pedintes,chorava de solidão,chorava de amor.Eu chorei também de muita felicidade! De ter vivido o amor de minha infância,de ter rompido com desamores,de ter sido lembrada quando não esperava...agora uso o nó da minha garganta em meu favor.

Ergui bem no alto o laço das minhas frustrações e pouco a pouco elas me foram sumindo, ao passo que eu ia subindo no banquinho de madeira.Sabe, eu aprendi a tocar violão nele.Sentei por várias vezes na calçada treinando, calejando os dedos, fumando cigarros,treinando a voz.Minha voz, em pensar que ela agora me falta.

Não escrevi nada antes.Não deixei partículas do meu dessorriso no ar.Queria manter minha alegria,mas ela paira no ar.Ah! Tempo...tempo de voltar!Mas já está feito.
Abri as asas contente.Deus há de me perdoar.Saltei em versos docemente no abismo lunar.Sai do poema, entrei na canção...canção solar.Que coisa eloquente, que jeito  mais singelo o de ir sem voltar.Dei adeus a mim mesma ,para a que vai e não para a que fica nos sorrisos, nas fotos, nas filmagens,nas citações, na alegria.

E falarão de mim no passado, contarão meus fatos inusitados.Estarei assim bem mais viva.
Não se vive para si,meus caros,mas para todas as vidas.A vida não nos é pertencente,tão pouco se vê isolada.A vida é corda enrolada de um pescoço pro outro, esperando,uma a uma o momento de saltar,da beirada do tempo.

Um comentário:

  1. Ameeei, Carol!
    Não sabia que você tinha outro talento além da música. Parabéns!

    ResponderExcluir